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A desumanização capitalista
• Paulo Gonçalves
Porto


O vírus do capitalismo impregnou-se na sociedade, no dia-a-dia, alienou as relações pessoais e laborais, molda mentalidades de acordo com os seus preceitos e objectivos, implementou lógicas individualistas de competição desenfreada, assentes num neo-darwinismo fragmentador de laços de solidariedade.
A ciência e a tecnologia estão ao seu serviço. O Estado tende a desresponsabilizar-se no que à investigação concerne, entregando à voragem empresarial o financiamento dos projectos científicos, tendo estes que responder a enquadramentos específicos que permitam aumentar o poder do capital.
Na educação, o ensino empresarializa-se, predominam as lógicas quantitativas e os resultados finais, desdenhando-se, concomitantemente, as componentes formativas por estas serem, naturalmente, enriquecedoras do indivíduo em si, subtraindo-o ao controlo remoto dos desígnios capitalistas. Interessa a estes, futuros homens altamente especializados, mas inconscientes dos seus direitos individuais, sociais e culturais. O capital quer um homem submisso, satisfeito e passivo. (...) Ou seja, o capitalismo e a lógica neo-liberal que o suporta, assumem-se como as mais temíveis formulações do totalitarismo.
Neste contexto, a acção dos socialistas torna-se vital de modo a inverter o curso da História actual. Está provado que o reformismo de esquerda não só pactuou como ajudou a legitimar a “hidra” reaccionária do capital. O carácter revolucionário não pode ser minimizado enquanto motor da História e do seu movimento dialéctico, em direcção a uma sociedade mais justa e, sobretudo, humana. No entanto, há fases que têm de ser reformuladas, de acordo com os dados actuais, proporcionados pela força tecnológica ao serviço do capitalismo. Os socialistas deverão persistir sempre nas acusações ao poder desmesurado das grandes empresas e multinacionais, apontar constantemente o dedo, incomodar e não temer o politicamente incorrecto. A agitação por meio da greve e da manifestação deverá ser usada com pertinência e atingindo alvos importantes; diria, muito à moda , intervenções sociais e laborais cirúrgicas susceptíveis de minar os fundamentos do edifício capitalista. Agitar, lutar e denunciar, constantemente, com o apoio de sindicatos e outras organizações sociais.
Na actualidade, e no caso concreto português, na falta de outros verdadeiros partidos de esquerda, o Partido Comunista terá mesmo que defender as conquistas da social-democracia, nomeadamente o estado social. A ofensiva capitalista não encontrará obstáculos às privatizações selvagens se assim não for. Mais tarde ou mais cedo, pagaremos a preço de ouro o ar que respiramos… Neste sentido, a revitalização do estado social constitui uma primeira fase da revolução socialista, ao mesmo tempo que intervirá no factor social de modo a reestruturá-lo de forma a permitir avançar com o processo revolucionário, apoiado nas camadas mais pobres da sociedade, nos trabalhadores e em todos aqueles que não se revêem num mundo dominado pelo cifrão. Não se trata de aproveitamento da infelicidade dos outros como argumentam os reaccionários, esquecendo-se que a pobreza foi por eles provocada para garantir o excesso de riqueza de franjas diminutas do tecido social. O que está em causa é dignificar aqueles que são pobres e entraram nos meandros da marginalidade, por força da hipocrisia capitalista. É dar-lhes o direito de participar activamente na revolução social, na mudança que urge acontecer, sob o risco de entrarmos numa nova e ainda mais terrível era das trevas, dominada pelo dogma do liberalismo enquanto fim último da História e do Homem.

Pensamentos em dialética permanente
• José Manuel Teixeira Fernandes
Rio Tinto


(...)
I – Reanálise e aprofundamento das causas que levaram ao colapso de um «modelo» de socialismo real no Leste Europeu e que devem ser reportadas a anos mais distantes. É imprescindível repensar determinados fenómenos que têm a ver com o funcionamento orgânico e erros estratégicos cometidos pelos partidos comunistas no poder. É imperativo a bem da verdade historico-política reanalisar acontecimentos tão marcantes como os ocorridos, por exemplo, na Hungria em 1956 ou em Praga em 1968, entre outros.
II – Tal como Marx e Engels (e mais tarde Lenine) caracterizaram e analisaram profundamente a génese e desenvolvimento da sociedade capitalista na sua época, é fundamental que se proceda à caracterização e se desenvolva uma profunda reflexão sobre a actual fase do capitalismo. Nada se pode superar sem fazer o esforço de o pensar. Traçar exaustivamente uma perspectiva o mais rigorosa possível da actual evolução do capitalismo, estudando todas as suas formas sofisticadas de alienação:
A) Capital e leis do mercado: política capitalista de globalização neoliberal;
B) Estado e lógicas de poder: tendências federalistas;
C) Situação internacional e fatalidade da guerra: pulsões e decisões militaristas e securitárias (Unilateralismo pragmático e utilitário);
D) Ideias dominantes e evidências ilusórias;
E) Progresso decadente e retrocesso civilizacional;
Interessa, essencialmente, analisar profundamente as contradições do real, detectar os pressupostos objectivos para a sua superação e proceder à determinação de objectivos revolucionários plausíveis. Porque comunismo é ao mesmo tempo processo e resultado da superação de todas as grandes alienações históricas através das quais se desenvolveu contraditoriamente até agora o género humano.
III – Urge redefinir o papel e acção do Partido na sociedade portuguesa. O País enfrenta dificuldades económicas, debilidades estruturais e desigualdades sociais crescentes. Mudança da vida política, nas estruturas económicas, no tecido social, no sistema mediático, na relação dos cidadãos com a política e no plano dos valores e atitudes sociais e políticas. Reequacionar todo o funcionamento de uma estrutura partidária, sua organização e dinâmica; encontrar novas formas de aperfeiçoar a sua intervenção, desenvolver organicamente meios que possibilitem o debate sistemático e a reflexão crítica permanente como parcerias de um melhoramento contínuo no funcionamento e acção da nossa organização colectiva. Aprofundar as causas da sistemática erosão eleitoral e de influência social. A espontaneidade e organização da célula pressupõe a unidade dialéctica de uma evidência e de uma exigência.
Uma espontaneidade que dificilmente escapará por si só ao perigo de permanecer inessencial, parcelar e marginalizável. (...) Absoluta necessidade de um a força comunista organizada, mas em que essa organização, tenha como papel não o abolir da espontaneidade, mas sim superá-la em auto-organização. Revalorizando uma centralidade viva, enfim liberta da pesada verticalidade, instaurando a descompartimentação horizontal e a autonomia concertada; uma organização irrigada pela espontaneidade, numa centralidade protegida contra a verticalidade, potenciando e permitindo nesse domínio, aos membros de cada célula, a aquisição de um grau muito superior de competência intelectual, de domínio político e de ambição prática. Estruturação orgânica, de direcção e de quadros (extensão do Comité Central), o estímulo à iniciativa própria da organização e dos militantes (Basicamente trata-se de implementar o verdadeiro centralismo democrático – não o centralismo autoritário e autocrático – «o máximo de democracia no mínimo de centralismo»).
(...)

*Os textos enviados para a Tribuna do Congresso devem ter um máximo de 60 linhas dactilografadas a 60 espaços (3600 caracteres, espaços incluídos). A Redacção do Avante! reserva-se o direito de reduzir os textos que excedam estas dimensões, bem como de efectuar a selecção que as limitações de espaço venham a impor. Cada texto deverá ser acompanhado do número de militante do seu autor.
Será dada prioridade à publicação do primeiro texto de cada camarada. Eventuais segundos textos do mesmo autor, só serão publicados quanto não houver primeiros textos a aguardar publicação.
A Redacção poderá responder ou comentar textos publicados.
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